Por Leandro de Mattos Colares
Renato Russo é clássico. Renato Russo não foi apenas um vocalista de uma banda de rock, foi e sempre será um ídolo de milhões de pessoas, que até hoje, mesmo depois de nove anos de sua morte, engrandecem sua música.
Renato Manfredini Júnior (Renato Russo) nasceu no dia 27 de março de 1960 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Aos quatro anos, ganhou um disco dos Beatles, que era uma de suas bandas preferidas, ao lado de Rolling Stones, Sex Pistols e The Clash. Aos sete anos, se muda para os Estados Unidos, por causa de uma tranferência de seu pai (funcionário do Banco do Brasil) para Nova Iorque, onde aprende a falar inglês. Aos onze anos, uma nova tranferência de seu pai o leva até Brasília, uma cidade importantíssima em sua história.
Por volta de 1975, surge o movimento punk nos Estados Unidos, que se caracterizava por um rock simples, de poucos acordes, sem muitos solos de guitarras, características do heavy metal. Após se recuperar de uma doença que o levou ficar quase dois anos na cama, Renato Russo descobre esse movimento em Brasília.
Numa das festinhas organizadas por uma turma que gostava do punk, Renato Russo conhece André Pretorius, com quem decide formar uma banda. E com Renato nos vocais e no baixo, André na guitarra e Fé Lemos (Capital Inicial) na bateria, formou-se o Aborto Elétrico, primeira banda de Renato Russo. Foi nessa época que várias músicas do repertório do Legião Urbana e do Capital Inicial foram criadas, como Que País é este (Legião Urbana) e Veraneio Vascaína (Capital Inicial).
Depois de várias formações, o Aborto Elétrico se desfez por causa da música Química, feita por Renato. Quando Renato mostrou a música para Fé, este disse que a música era horrível e teria dito para Renato que este perdera a habilidade para fazer músicas.
Após a separação do Aborto Elétrico, que durou apenas três anos (1979-1982), Renato Russo decide tocar sozinho, fazendo shows acompanhado de um violão de 12 cordas, intitulando-se “O Trovador Solitário”. Dessa época, nascem músicas com um estilo mais folk, como Faroeste Caboclo (considerada por este que escreve esta biografia a melhor canção já feita por um brasileiro), Eduardo e Mônica, Dado Viciado, Música Urbana 2 entre outras.
Cansado de tocar sozinho, Renato Russo convida Marcelo Bonfá para formar uma banda. O nome escolhido é Legião Urbana. Com Renato nos vocais e no baixo e Marcelo na bateria, era necessário um guitarrista para que o trio fosse formado.
Com isso, Eduardo Paraná, um conceituado guitarrista de Brasília é convidado por Renato para entrar na banda e junto com ele entra também o tecladista Paulo Paulista. Porém, estes dois rapidamente saem da banda, já que impunham um estilo muito pesado na banda, o que incomodava Renato e Bonfá.
Ico Ouro-Preto é convidado para ser o guitarrista e consegue um melhor resultado, mas acaba saindo em um mês. Dizia a lenda que ele morria de medo dos palcos.
Após quase desistirem, Bonfá e Renato decidem convidar Dado Villa-Lobos, nada menos do que sobrinho neto de Heitor Villa-Lobos, para assumir o posto de guitarrista da banda. Com o trio formado, a banda precisava de novas músicas, já que tinham shows marcados. Então, decidem tocar hardcore, música fácil, com energia contagiante e de poucos acordes. Desse tempo, surgem Petróleo do Futuro, Teorema e Perdidos no Espaço, entre outras.
Nessa mesma época, os Paralamas do Sucesso estavam fazendo muito sucesso e Bi Ribeiro (baixista dessa banda e ex-aluno de inglês de Renato) consegue uma oportunidade para o Legião: gravar um disco pela EMI, conceituada gravadora no mundo todo. Com este fato, Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá sempre consideram os Paralamas como seus padrinhos.
Tudo estava indo bem, até que Renato Russo tenta suicídio depois de uma briga com a gravadora por causa dos arranjos da música Geração Coca-Cola. Ele cortou seus próprios pulsos ficando incapacitado de tocar baixo. Com isso, a gravadora coloca Renato Rocha (Negrete) no baixo, deixando Renato livre para os vocais.
Em janeiro de 1985 é lançado o disco “Legião Urbana”. A EMI estava receosa quanto ao sucesso do grupo, porém, após seis meses de congelamento (graças ao Rock In Rio, que o Legião não participou) o disco começa a chamar a atenção. Músicas como Será, Ainda é Cedo e Geração Coca-Cola fazem sucesso com grandes níveis de audiência. Será é eleita por uma revista a melhor música do ano, O Legião é considerado a melhor banda e Renato o melhor cantor.
No final desse mesmo ano, a banda entra em estúdio para gravar o disco “Dois”, que deveria ser duplo e se chamar “Mitologia e Intuição”. Mas, receosa, a EMI se recusa a laçar um disco duplo para uma banda tão nova como era a Legião.
Este disco torna-se rapidamente um grande sucesso e é considerado por muitos um dos maiores discos de rock nacional na história. Músicas como Tempo Perdido, Índios, Metrópole e Quase Sem Querer se tornam hits. Mas o maior sucesso deste disco e um dos maiores sucessos da Legião, foi Eduardo e Mônica, uma música que conta a história de dois jovens que se apaixonam apesar dos estilos diferentes de vida.
Mas, com o sucesso, também vem os problemas. Em dezembro de 1986, num show em Brasília, um quebra-quebra faz uma menina morrer e 20 pessoas se ferirem. Este fato marcou a característica da banda de fazer poucos shows.
No final de 1987, é lançado o disco “Que País é Este 1978/1987”, que traz várias músicas da época do Aborto Elétrico e mostra como a banda mudou o seu estilo de música.
Músicas como Que País é Este, Eu Sei e Angra dos Reis fazem bastante sucesso. Porém, a música que se destaca nesse disco é Faroeste Caboclo. Uma música de nove minutos, que conta a história de João de Santo Cristo, que se associa ao povo brasileiro. Esta música concerteza foi a música de maior sucesso do Legião Urbana, e foi composta em apenas duas tardes por Renato Russo. Esta música é uma espécie de hino do Legião Urbana.
Mas, novamente num show em Brasília, mais precisamente no estádio Mane Garrincha, uma organização pífia faz centenas de feridos e três mortos. Um louco chegou a subir no palco e agarrar Renato Russo. O show foi interrompido e o que se via era uma imensa confusão no público. Renato Rocha e Marcelo Bonfá choravam no camarim e Renato Russo gritava: “Na vim aqui para dar show para animais”.
Este fato foi muito marcante na história da banda, que depois desse dia, nunca mais fez shows em Brasília, e diminuiu bastante sua quantidade de shows.
Logo depois, Renato Rocha saiu da banda, já que não conseguia cumprir os compromissos com ensaios.
Em 1989, é lançado um disco histórico: “As Quatro Estações”. Todas as músicas (Há Tempos, Pais e Filhos, Feedback Song For a Dying Friend, Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto, Eu Era um Lobisomem Juvenil, 1965 (Duas Tribos), Monte Castelo, Maurício, Meninos e Meninas, Sete Cidades e Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar) fazem sucesso. Este disco é o de maior vendagem da banda, com quase 2 milhões de cópias vendidas. Dentre essas 11 músicas, sem dúvida o destaque é Pais e Filhos, que faz grande sucesso, se transformando num dos maiores sucessos do Legião.
Em 1990, ocorre uma grande mudança na banda. Renato Russo assume publicamente ser homossexual e descobre ser portador do vírus da AIDS. Renato também conhece a maior paixão de sua vida, o americano Scott, que lhe vicia em heroína.
Com Renato afundado no vício, em dezembro de 1991 é lançado o mais belo disco do Legião Urbana: “V” mostra todas essas mudanças na vida de Renato, com músicas falando de drogas. Teatro dos Vampiros e O Mundo anda tão Complicado viram hits. Mas duas músicas desse disco podem ser destacadas: a primeira é Metal Contra As Nuvens, uma belíssima música de onze minutos e meio que usa palavras difíceis que mostra um Renato Russo mais poeta. O outro destaque é Vento no Litoral, a mais bela música do Legião Urbana, que foi o maior sucesso deste disco e que foi feita para Scott, quando este voltou para sua terra natal.
Renato Russo estava tão afundado no vício, que, durante a turnê deste disco, quando o Legião estava excursionando pelo nordeste, alguns shows tiveram que ser desmarcados, já que Renato estava caindo de bêbado e com fortes tendências suicidas.
Em 1992, é lançado o disco duplo “Música Para Acampamentos”, que mostram as músicas do Legião tocadas ao vivo, algumas acústicas, alguns covers internacionais e apenas uma música inédita: A Canção do Senhor da Guerra se torna grande sucesso. Fábrica se torna hit também.
Em 1993, Renato Russo se interna uma clínica e se livra do vício das drogas e da bebida. Essa mudança pode ser notada no disco “O Descobrimento do Brasil”, que fala de esperança e é sem dúvida, o disco mais alegre da Legião. Músicas como Vinte e Nove e Vamos Fazer Um Filme se tornam hits. Mas podemos destacar, assim como no disco anterior, duas músicas: Giz, que, além de ter se tornado um hit, era a música preferida de Renato Russo (ele dizia que a música era completinha), e Perfeição, que ganhou um vídeo-clipe num ambiente muito parecido com a capa do disco (cheia de flores), e por ser o maior sucesso do disco.
Em 1994 o Legião resolve dar um tempo. Com isso, Renato Russo lança, nesse mesmo ano, o seu primeiro disco solo, o “The Stonewall Celebretion Concert”, um disco totalmente em inglês. The Stonewall era um bar nos Estados Unidos onde aconteceu um levante gay em 1970. Esse álbum continha músicas de Madonna, Bob Dylan, entre outros.
Em 1995, é lançado o disco “Equilíbrio Distante”, que trazia músicas em italiano. Nesse disco, Renato Russo canta muito bem, implacando sucessos como Strani Amori, La Solitudine e La Forza Della Vita. Segundo o próprio Renato, esse disco foi feito em homenagem à sua família, de origem italiana.
1996 é um triste ano. A partir de janeiro, o Legião começa as gravações de seu novo álbum. Junto com isso, começam as complicações emocionais de Renato, que estavam presentes nas músicas desse álbum. Em setembro, apressadamente é lançado “A Tempestade” ou “O Livro dos Dias”. Este disco é o mais triste da Legião e emplacou sucessos como Dezesseis e A Via Láctea, em que Renato Russo praticamente se despede dos fãs. Fraco e com 20 quilos abaixo do peso, Renato falece em 11 de outubro de 1996, de complicações da AIDS. Esse dia, sem dúvida, é um dos dias mais tristes da história da música nacional. Dez dias depois, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá anunciam o fim do Legião Urbana.
Em 1997, são lançados dois discos póstumos: “O Último Solo” é um disco solo de Renato com sobras dos outros cds. “Uma Outra Estação”, do Legião, é um disco de sobras de “A Tempestade” (que deveria ser um disco duplo, mas a proposta foi rejeitada pela EMI), e músicas que deveriam ter feito parte de “Dois”, que como já citado anteriormente, era pra ser também um disco duplo.As Flores do Mal e Antes Das Seis se tornam hits.
Em 1998, é lançado “Mais do Mesmo”, uma coletânea com os maiores sucessos do Legião.
Em 1999, é lançado o “Acústico MTV”, gravado em 1992 para divulgar o disco “V”. Hoje a Noite Não Tem Luar, cover do Menudo, se torna um grande sucesso.
Depois disso, além de diversas coletâneas de Renato, são lançados “Como é Que se diz eu te amo” de 2001 e “As Quatro Estações-Ao Vivo”, de 2004. Estes são discos com formato duplo e que registram o Legião Urbana ao vivo, mostrando também os grandes dircursos que Renato Russo fazia no palco.
Esta é a história do maior nome do rock nacional e da maior banda de rock nacional, que sem dúvida, vão ficar para sempre em nossos corações.
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