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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Debate científico na UFOPA discute criação do estado do Tapajós

A apresentação do violonista e compositor santareno Sebastião Tapajós marcou o início do Seminário “Perspectivas de emancipação do estado do Tapajós”, evento promovido pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) nos dias 26 e 27 de outubro de 2011, em Santarém (PA).
O auditório lotado do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI) recebeu, na abertura, ocorrida no dia 26, a palestra do também santareno Manuel Dutra, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), que falou sobre a emancipação do estado do Tapajós, a partir de uma perspectiva histórica.
Outro destaque do evento foi a participação da geógrafa Bertha Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que ministrou palestra sobre a geopolítica e o desenvolvimento regional no Oeste do Pará, na manhã do dia 27 de outubro. Para Bertha Becker, a utilização sustentável dos recursos naturais, para a geração de emprego e renda para a população, é o grande desafio da região Oeste do Pará. “Temos que pensar na organização da base econômica dessa região”.
Berta Becker não apresentou uma postura a favor ou contra a criação do Estado do Tapajós, fez questão apenas de reforçar que o objetivo  da sua explanação foi apresentar argumentos para ajudar na reflexão. Como argumento a favor ela apresentou o que classificou de “racionalidade administrativa” que seria a criação de uma unidade da federação para atender às demandas da população. “Já os que são contra dizem que esse atendimento às populações não depende de uma divisão territorial, mas sim do tratamento prioritário que deve ser dado a essas populações”. Outro argumento favorável, de acordo com a geógrafa, é o da “viabilidade econômica”. Ela afirmou que no Oeste do Pará há um potencial econômico grande, porém a população ainda vive em condições de pobreza muito grande.
Berta Becker chamou atenção ainda para a questão da “territorialidade” nas discussões sobre a criação do novo estado. “A territorialidade é a relação que a população tem com seu espaço. Fala-se muito termos de Santarém, que tem uma situação diferente dos outros municípios da região. Santarém tem 300 mil habitantes, PIB de quase R$3 milhões. Mas o que estão querendo para a formação do novo estado é uma área muito maior que vai para o sul e para o norte da região. Como vive a população nessas áreas?”, questionou, e em seguida completou: “Com ou sem estado do Tapajós, é fundamental fortalecer as cidades da região, porque a cidade é o pólo logístico para o desenvolvimento”.
Resgate histórico – “Essa é a primeira experiência brasileira de criação de um novo estado por meio de consulta popular”, ressaltou Manuel Dutra durante a palestra de abertura do Seminário. Natural de Santarém, o professor da UFPA falou sobre as contradições existentes nos discursos favoráveis e contrários à criação do Estado do Tapajós. “Em sua maioria, esses discursos se reduzem aos aspectos econômicos e fiscais”.
Ele fez ainda um resgate sobre o sentimento de perda da oportunidade histórica de emancipação política da região. “Em 1832 a cidade de Santarém tinha o mesmo status jurídico, como comarca, que Belém e Manaus. Esse foi um momento histórico que deixou saudades”, lembrou o professor da UFPA. “Já nas décadas de 1960 e 1970, durante o regime militar, o município de Santarém era celebrado como o terceiro polo de desenvolvimento da Amazônia. Mesmo assim, as elites locais não se empenharam para conseguir a emancipação da região”.
Solenidade - Durante a abertura do evento, ocorrida no dia 26, o reitor da UFOPA, Prof. Dr. José Seixas Lourenço, falou sobre a criação do GT-Tapajós, grupo constituído por professores da UFOPA com o objetivo de desenvolver estudos e diagnósticos para subsidiar a discussão a respeito da divisão territorial do Pará para a criação de outra unidade federativa, denominado Estado do Tapajós, na região Oeste do Pará, área de atuação da UFOPA. “Esse grupo trabalhou com muita competência e dedicação para mobilizar os vários segmentos da sociedade para esse importante debate”.
A solenidade de abertura contou com a participação de representantes de diversos segmentos da sociedade. “É a primeira vez que fomos chamados para o debate”, afirmou João Tapajós, do Grupo de Consciência Indígena (GCI), que representou as populações indígenas durante o evento. “A nossa maior preocupação é em relação à demarcação das terras indígenas, porque o que garante a nossa proteção e existência é a demarcação das nossas terras”.
Para o representante da União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém (UES), Ib Tapajós, é fundamental debater um novo modelo econômico para o estado do Tapajós. “Queremos um novo estado sim, mas com um novo modelo econômico, mais sustentável, e a universidade tem que contribuir para um debate consciente”.
“A universidade não pode ficar fora desse processo e tem que produzir argumentos baseados no conhecimento científico”, afirmou o representante dos técnicos administrativos da UFOPA, Erick Braga. “Hoje o debate é baseado na emoção. Por isso precisamos qualificar esse debate para podermos nos posicionar sobre esse projeto”.
Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES), Alberto Batista de Oliveira, a emancipação política do Oeste do Pará vai viabilizar o desenvolvimento sustentável da região. “A criação do estado do Tapajós vem dar essa perspectiva nova”.
Lenne Santos e Maria Lúcia Morais – Comunicação/UFOPA

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