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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Opinião: A Vacina me Pertence?

Ricardo Geller

Um gesto nobilíssimo de amor repercutiu muito em Santarém nestes últimos dias. Um profissional da saúde abriu mão de sua imunização e doou a "sua" vacina para sua mamãe, idosa, com comorbidades. 

Não tenho dúvidas que a imensa maioria de nós, se pudesse, faria o mesmo. Ação nobre, de verdadeiro e puro amor. Mas poderia o agente de saúde fazer isso? Acredito que não. Existem critérios para a distribuição da vacina no sistema público. 

Estes critérios não são definidos ao acaso, mas pensados num bem maior, na coletividade. Quando um agente de saúde é colocado na prioridade para o recebimento da vacina, não é necessariamente pensando em sua saúde que o Estado define tal critério, mas na saúde de todos os que pertencem a este grupo e que com tal tem contato, pois é mister que todos estejam bem para o desempenho de suas funções. E se todos os agentes de saúde resolvessem doar as suas vacinas para a mamãe, para o papai, para os filhos, para um amigo/amiga querido(a)? O ideal da adoção dos critérios para a distribuição das vacinas iria para o beleléu e não cumpriria o seu desiderato. 

Posso pegar a minha vacina e jogar no lixo? Vender? Doar?Trocar por um carro? Se ela fosse comprada num laboratório privado, obviamente que poderia, em tese, fazer com ela o que bem entender. 

Dois profissionais da saúde (o doador e o que autorizou), sérios, comprometidos com a saúde dos munícipes pediram exoneração das funções que ocupavam ao saberem que seriam abertos inquéritos administrativos para a apuração do fato. Acho que se precipitaram. A abertura dos inquéritos era obrigação do órgão competente. A repercussão foi muito grande. A internet foi a loucura, com "pareceres" favoráveis e contrários ao ato. Creio que seriam apenas advertidos, sem outras consequências maiores, pois no fundo, no fundo, foi um gesto altruísta, humanitário, de amor infinito, mas que fique claro, a VACINA PÚBLICA NÃO NOS PERTENCE.

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